sábado, 23 de abril de 2011

AREZZO E PELEMANIA

A Arezzo lançou uma coleção chamada "Pelemania", com sapatos e bolsas de peles de animais exóticos. E estourou na internet muitos protestos. Em um blog que eu sigo, a cidadã deixou bem clara sua opinião sobre o assunto, até deixei um comentário, resumidamente que as pessoas criticam sem saber a procedência da matéria-prima. Sem entender o processo e os compradores desses produtos.

Ano passado fiz uma pesquisa na área de corantes naturais para a indústria têxtil, e me deparei com um resultado inesperado, de que os corantes naturais na atualidade não são nada sustentáveis. E isso choca um pouco, pois tira as pessoas da zona de conforto do conhecimento já estabelecido.

Gostei muito da posição do site moda.ig.com.br entrevistando Anderson Birman, presidente da Arezzo, e gostei ainda mais de sua atitude em relação aos protestos descabidos das redes sociais. Eu deixo claro que não consumo peles, mas se eu souber que o processo é legal e sustentável, pq não? De toda a cadeia têxtil, a maioria dos produtos que consumimos é extremamente poluente, então, sempre devemos saber antes, para não nos tornarmos hipócritas.

A dica: Pense sempre antes de expressar sua opinião em público.

Abaixo a entrevista completa do site moda.ig

Uma coleção completa feita com peles exóticas, como as de raposa e coelho, batizada de Pelemania, levou a Arezzo ao trending topics do twitter no Brasil esta semana e causou a maior polêmica no Facebook. Sob pressão das redes sociais, a marca retirou as peças das lojas. Em entrevista exclusiva ao iG Moda, Anderson Birman, presidente da Arezzo, fala sobre o imbróglio das peles e da decição de tirar a coleção das vitrines.

iG Moda: Vocês esperavam que a reação do público fosse tão contrária à coleção Pelemania?
Anderson Birman: Não, até porque a rejeição que existe é localizada nas mensagens de Twitter e Facebook. Tenho recebido uma tonelada de emails me criticando por ter tirado as peças das lojas, gente que consome e que gostaria de consumir esse tipo de produto. O abate de animais faz parte da cadeia alimentar humana e é muito mais ecológico o uso de peles do que do couro sintético e do plástico.

iG Moda: Qual o motivo, então, de retirar a coleção das lojas?
Anderson Birman: A Arezzo é uma empresa de moda, não vou abrir o debate, nem ficar discutindo isso: Eu estou comprometido com as mais de 5 mil pessoas que trabalham no negócio e não vou colocar a empresa debatendo isso. O que é novo pra mim é como a questão de minorias se faz muito presente em redes sociais.

iG Moda: Rede social só é bom quando fala bem?
A. B.: Rede social é boa, proporciona um feedback, uma leitura do mercado. Não é bom quando o tema tem muita repercussão e não tem muita utilidade. Quanto tempo existe esse debate sobre o uso de pele? A questão é que a mobilização fica restrita a pessoas que pensam dessa forma. Eu conheço várias pessoas que usam pele, várias que não usam. Acho que a diversidade é a riqueza do mundo.

iG Moda: As peças foram importadas da China. Há como confiar na certificação das peças?
A. B.: A fiscalização compete aos órgãos de controle, nós atendemos às orientações legais, temos toda a documentação da certificação. O abate de animais silvestre é crime e o controle é rigoroso, não entra em país algum, não transita em alfândega sem o licenciamento responsável.

iG Moda: Por que as peles causam esse tipo de reação, mas o couro não?
A.B.: Acho que o bichinho peludo está mais no cognitivo humano do que a vaca. O couro, apesar de todo o processo poluidor que sua cadeia produtiva tem, é mais biodegradável do que o sintético. Conheço profundamente peles e couros. O Brasil é o maior exportador do mundo do couro no primeiro estágio, quando ele é mineralizado e se chama wet blue. Produzir o couro nesse estágio é altamente poluente. Se os produtores segurassem esse couro no Brasil, seríamos muito mais competitivos no mercado internacional.

iG Moda: Qual o prejuízo para a marca?
A.B.: Não arriscaria números, pois esses produtos estavam no entorno da coleção. Desde que a empresa abriu o capital no mercado e está exposta, eu alterno dias de crise com dias de exaltação. A gente tem de ter bom senso e equilíbrio para conviver com críticas e elogios. São 38 anos de mercado e não acredito que esse episódio vá afetar a história da marca. Em momento algum eu declarei que sou contra o uso de pele de animal. Recolhi as peças porque não quero discutir.

iG Moda: A Arezzo não quer fazer parte do debate?
A. B.: A empresa não se coloca na posição de liderar e promover debates, principalmente em um foro com a rede social. Ao ler as mensagens deixadas no Twitter e no Facebook, o que a gente tira de crítica útil é muito pouco. A maioria é agressão e parcialmente. Não quero discutir isso. Meu compromisso é com a empresa. O que eu não queria e vou fazer de tudo para evitar é entrar nessa discussão. O objeto de desejo das mulheres de todo mundo é a bolsa Birkin da Hermés, feita de pele de crocodilo de cristório, que custa 30 mil dólares. Não podemos ser demagogos.

iG Moda: O que vai ser feito das peças recolhidas?
A. B.: A coleção toda tem 2 milhões de peças e nós recolhemos 300 itens. O que vamos fazer com eles ainda não sei. Vou consultar a rede sobre o que fazer, quem sabe um leilão virtual? Não vou debater o que não é relevante. Se isso comprometesse a operação da empresa, talvez eu não fizesse, mas já que não compromete é preferível que eu recue. Não acho produtivo nem conveniente o debate na internet.

iG Moda: Essa é a primeira vez que a pressão da rede social leva à retirada de uma coleção das lojas. Isso vai mudar a relação das empresas com as redes sociais?
A. B.: Eu gostaria que o mesmo respeito que estou tendo, as pessoas tivessem com a empresa. Estou liderando isso pessoalmente, e viver a crise na rede social é estimulante, é preciso parar para pensar em como agir. Está sendo um aprendizado ótimo e aprender é sempre bom. O comunicado oficial eu redigi, mas hoje já faria diferente. Em vez de dizer que "não é da nossa responsabilidade discutir o tema em si", eu diria que não é oportuno. Nossa responsabilidade é sim, mas não é oportuno.

Nenhum comentário:

Postar um comentário